quinta-feira, 13 de maio de 2010

Porquê as crianças deveriam meditar?

Encontrei um livro precioso, de doias autores chamados David Fontana & Ingrid Slack. O Capítulo 2 do livro - Teaching Meditation to Children - traz a seguinte discussão:

"A imagem tradicional de que a infância é um tempo de inocência descuidada, com longos períodos de férias e tardes de verão, tendo como pano de fundo um ambiente seguro com a família ou com os amigos, talvez tenha se perdido para sempre. No entanto, a noção de que a infância é um período relativamente livre de estresse quando comparado à vida adulta ainda segue. Poucas noções poderiam estar mais distantes da realidade. Uma forma de nos convencermos deste fato é reconhecermos que as crianças pequenas vivem em mundos similares em muitas maneiras aos que os adultos experimentavam nos tempos medievais. Com exceção de poucos privilegiados, crianças pequenas não têm direitos reais relativos a dinheiro ou propriedades. Estão sujeitos a regras e decisões arbitrárias e muitas vezes inconsistentes tomadas pelos mais velhos, e punições sumárias por ofensas que podem nem mesmo ter ciência de terem cometido. Elas não votam, não têm controle sobre processos políticos ou judiciais, e pouca escolha sobre como gastar suas horas das nove às quatro. Também habitam um mundo onde a violência sob a forma de ameaças e intimidações podem estar à espreita em cada esquina. Quer elas gostem ou não, elas têm que fazer testes e exames, preparados e aplicados por examinadores que elas não conhecem, de quem seus futuros e auto-imagem dependem crucialmente.
Além de reconhecermos a falta de poder que a sociedade impõe às crianças pequenas, devemos lembrar que crianças experimentam sentimentos como amor, alegria, medo, desapontamento e raiva com uma intensidade incomparável a qualquer outra fase da vida adulta. O sucesso ou o fracasso em estabelecer relações de intimidade pode ser mais crucial para elas e a aceitação pelo grupo de colegas pode contar mais do que em qualquer outra fase da vida. Além disso, os primeiros anos são uma etapa altamente formativa para a história de vida. Durante esses anos a criança não apenas aprende os fatos e símbolos demandados pela educação formal, como também precisa explorar questões psicológicas e sociais relacionadas à autoconsciência, identidade pessoal, comportamento moral e uma grande variedade de questões que irão compor sua vida em comunidade.
Reconhecer a natureza e a força destas pressões nos permite apreciar que o estresse, a neurose, a infelicidade e a depressão não são de forma alguma prerrogativas dos adultos. Como psicólogos e orientadores que trabalham extensivamente com crianças e adultos, temos visto a mesma variedade de sintomas e dificuldades em todas as idades. A única real diferença é que crianças mais novas acham mais difícil articular seus problemas e de serem levadas mais a sério do que os mais velhos. É mais freqüente que crianças sofram em silêncio, incorrendo em feridas psicológicas que as acompanharão por toda a vida....
Mesmo crianças com famílias ideais e experiências escolares invejáveis sofrem tensões físicas e emocionais em um mundo cada vez mais exigente e estressante. Infelizmente, pouco é feito dentro da educação formal para ajudá-las a entender a si mesmas, a controlar suas ansiedades e seus processos de pensamento, a descobrir a tranqüilidade, harmonia e equilíbrio dentro delas mesmas. Pouco é feito para ajudá-las a gerenciar suas vidas interiores, a usar a energia mental de forma produtiva ao invés de dissipá-la em preocupações e pensamentos aleatórios, e acessar os níveis criativos de suas próprias mentes.
A meditação é uma das mais importantes formas pelas quais podemos ajudar as crianças a lidar com suas próprias vidas, tanto no âmbito pessoal quanto no acadêmico. A meditação pode dar poder, mesmo a crianças bem pequenas, sobre seus pensamentos e suas emoções, não por um autocontrole repressivo, mas por um aprimoramento do auto-entendimento e da auto-aceitação. A meditação não pode transformar uma criança infeliz em feliz da noite para o dia, ou maquiar todas as privações que algumas crianças sofrem nas mãos de seus cuidadores, mas pode levá-los a um maior auto-manejo e a mais felicidade."

Nenhum comentário: